quarta-feira, 8 de julho de 2009

Entrevista Parte 3


Na terceira parte das entrevistas. O Repórter Sobre Rodas, César Paranhos, entrevista o jornalista do Estado de S. Paulo, Luiz Carlos Merten e a relações humanas da Editora Três, Rosana Mikowski. Confira abaixo:

Repórter Sobre Rodas: O periódico Estado de S. Paulo, têm mais profissionais com deficiência trabalhando, além de você e eles interagem normalmente dentro de suas funções, sem nenhum tipo de dificuldade?

Luiz Carlos Merten: Com certeza. As pessoas que eu conheço e isso eu acho muito legal. Elas interagem no ambiente profissional de uma maneira assim, que eu posso te dizer igualitária, em relação as demais, ninguém ta precisando ser ajudado, de um tapinha nas costas. Ah, ele não pode fazer isso, mas enfim é importante etc... e tal. Eu tenho a impressão que todas elas, eu acho que é mais ou menos assim, uma “maratona” de deficientes, as pessoas querem ir ao seu limite, querem ser aceitas com o que podem fazer. O entrave físico é uma limitação, mas não é um obstáculo intransponível. Eu por exemplo, não tenho uma mão e um braço mas sou rápido no meu computador digitando, que os meus colegas aqui que tem duas, e sabe, isso não tem nada a ver realmente, eventualmente tem, existem casos que são diferenciados. Você sabe que eu tinha um colega há anos que, quando eu estava no início de minha carreira, lá em Porto Alegre, nos anos 70 ainda, no jornal chamado Folha da Manhã, eu tinha é um colega que tinha disritmia, dentre outros graves distúrbios, assim motores e ele por exemplo tinha extrema dificuldade, é de digitar, naquele tempo era na máquina de escrever, ainda não era no computador, e aquele cara, era uma coisa de louco, ele podia demorar é duas horas para escrever um texto que eu escreveria nessa minha rapidez de 15 a 20 minutos, mas ele tinha uma leveza, um humor, uma graça e ele fazia na realidade crônica no jornal era, uma coisa assim... mas você lia o que ele digitava com tanto esforço, você lia aquilo com um prazer extremo, sabe? E até porque por exemplo não tinha na parte dele, aliás, nada amargurado, nada disso, então eu até sempre tomei aquilo como exemplo. Pois eu, fui criado como se não tivesse nenhuma deficiência. Eu tenho a impressão que a deficiência, ela é um entrave, mas se a gente assimilar e assumir isso internamente, se assumir como um cidadão ou como um profissional de segunda categoria e aceitar isso como um limitador do que “não podemos fazer”, aceitando um espaço muito pequeno, que delimitam para gente, aí eu acho que é uma coisa grave, sabe. Eu acho que mesmo com a consciência de nossas limitações, o céu é o limite e a gente deve tentar ir sem mais além para que todos nós só cresçamos.


Repórter Sobre Rodas: Rosana Mikowski, quantos funcionários com algum tipo de deficiência trabalham na Editora Três?

Rosana Mikowski: Apenas um.

RSR: Quais são as dificuldades enfrentadas pela editora para contratação desses profissionais?

RM: Talvez o preconceito.

RSR: O preconceito por parte dos profissionais de dentro da editora, ou o preconceito da sociedade em geral?

RM: Eu acho, que primeiro dos profissionais de dentro, eu acho que depois, eu acho que faz parte de uma sociedade em que a gente vive, mas eu acho que é mais assim de dentro. Talvez eles desconheçam outras alternativas, então ficam presas naquela coisa comum na hora de solucionar um profissional.

RSR: Como é que o departamento de relações humanas, no caso você e sua equipe, trabalha com a necessidade que a gente sabe de atender a cota e de atender esses profissionais, com uma certa dignidade, digamos assim?

RM: Eu vou ser mais sincera ainda, no momento não existe esse trabalho. É, há um tempo atrás, acho que uns quatro anos atrás, nós fizemos uma seleção e nós contratamos 15 deficientes físicos, não poderia ser auditivo, porque era para trabalhar na nossa gráfica, então tinha que ouvir o barulho das máquinas, até para a segurança dele. Desses 15, ficou só esse menino que hoje está lá, porque os próprios encarregados, que não tinham formação acadêmica nenhuma, que também foram subindo assim sem qualificação nenhuma, maltratavam, não tinham paciência em explicar, achavam que era preguiça, não era deficiência, era preguiça, e eles foram indo embora e de lá para cá, ninguém nunca mais sugeriu que retornasse a contratar com deficiência, eu digo assim especial.

RSR: E quanto à estrutura física da empresa?

RM: Nenhuma, nada. Não tem uma rampa, não tem elevador, tudo é passa por escadas, não tem corrimão é assim, nada, nada, nada.

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