terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Portador de Deficiência como Profissional de Jornalismo

Hoje existe uma parcela representativa de portadores de necessidades especiais que estudam, e os cursos de comunicação são atraentes para esses acadêmicos. Por ter certa deficiência este profissional é mais exigido do que os outros e daí vêm a sua preocupação em qualificar-se para atender as demandas dos setores de comunicação social, pois ele será obrigado a se expressar e se comunicar com o mundo como um todo. O fato é resultado de uma política ativa para o acesso de portadores de necessidades especiais ao conhecimento e às oportunidades do ambiente de trabalho.

Um personagem que ganhou evidência e espaço na mídia ultimamente foi à jornalista Lia Crespo. Formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, no ano de 1979, Crespo convive com seqüelas de paralisia infantil desde um ano de idade. Estudou em escolas públicas, porém o ano de 2000 foi especial para ela, pois conquistou o grau de Mestre em Ciências da Comunicação (ECA/USP), com o desenvolvimento do trabalho “A imagem das pessoas com deficiência na mídia impressa”.

Hoje a jornalista se dedica ao seu doutorado em História, na USP, focando a trajetória do movimento social das pessoas com deficiência. Ela foi uma das fundadoras do Núcleo de Integração de Deficientes e, atualmente participa do Centro de Vida Independente Araci Nallin, além de escrever livros voltados à educação inclusiva.

Várias pessoas com deficiência atuam no campo jornalístico, porém com lesão mínima aparente. Uma delas é Boris Casoy, que afirma: “Eu não vejo os órgãos de imprensa com essa preocupação. Essa preocupação não chegou aos órgãos de imprensa. Há deficientes que se adaptam à redação, mas eu não tenho visto a redação estar preparada, inclusive sob o aspecto físico. Sobre o aspecto de trabalho eu não vejo grandes obstáculos a alguns tipos de deficiências, mas, por exemplo, em várias organizações que eu trabalhei, não havia essa preocupação e alguns lugares começam a ter essa preocupação com a acessibilidade. E eu não vejo muitos deficientes, por exemplo, na redação da Rede Bandeirantes de Televisão, eu não vejo nenhum deficiente, ninguém com problemas de mobilidade trabalhando aqui. Ah tem, tem deficiente trabalhando aqui, eu já me lembrei”[1].

Por outro lado, afirma o também jornalista Otávio Mesquita: “Eu acho que deveria ter um acesso maior aos problemas que os deficientes passam. Eu particularmente já fiz reportagem sobre isso e fiquei um dia inteiro, em uma das matérias que fiz, eu fui cadeirante, e tive uma vida normal, desde o momento em que acordei até o momento em que fui dormir. Fiquei o dia inteiro sentado e confesso a que eu fiquei assim muito chateado, porque eu não conseguia andar em uma calçada, a calçada estava quebrada . O restaurante que eu fui não tinha estrutura de rampa, então era muito complicado; tomar táxi era uma complicação, ônibus nem pensar, enfim é uma tristeza”[2].

Alguns cadeirantes, porém raros, podem ser encontrados em algumas empresas de telemarketing, independente de sua formação acadêmica.

Representantes de grandes grupos empresariais e, até mesmo o setor de recursos humanos, são unânimes em não contratar esse tipo de deficiente, pois além de um preconceito vasto, a visão não agrada aos olhos do público e demais funcionários, conforme afirma o profissional Luiz Carlos Lopes, portador de necessidades especiais.

Sobre alguma situação problemática na empresa ele afirma que nunca passou e comenta: “Não. Nessa empresa nunca. Tem coisas muito veladas, tem coisas que você não pode assegurar, mas ouve um caso aqui na Ricardo Viveiros, mas não foi problema na empresa e sim com um cliente da empresa. É até curioso, pois foi justamente um hospital que foi nosso cliente, o Hospital São Luis. Nesse hospital eu fui responsável pela cota, e 15 dias depois, ia pedindo reuniões, e aquilo não avançava. Mais tarde eu fiquei sabendo pelo meu chefe que na época a responsável pela área de marketing tinha solicitado a troca do atendimento porque entendia que eu não poderia acessar algumas dependências do hospital. Isso chegou até a ser ridículo, porque se eu não puder entrar de cadeira de rodas em um hospital!” [3]

Fala-se em demasia sobre responsabilidade social, porém nenhuma forma de integração social foi suficiente para garantir ou exigir mudanças de atitude, espaço físico, objetos e práticas sociais necessárias para receber essas pessoas como cidadãos aptos a enfrentar as dificuldades da sociedade. A sociedade brasileira ainda não está pronta a perceber que a qualquer momento alguém “normal” pode enfrentar o estágio “deficiência”, podemos mencionar aqui o caso de Marcelo Rubens Paiva, escritor, que ao mergulhar no lago de um sítio fraturou a coluna.

Ao ver de uma sociedade mais justa na Inclusão social, o indivíduo ao nascer já é inserido na família, por isso é registrado independente de sua condição física, mental aparente, porém no campo profissional, essa depende ainda de ajustes, para Luis Carlos Merten, jornalista atuante no Jornal O Estado de São Paulo: “mesmo com a consciência das limitações, eu acho que a gente, o céu é o limite, a gente deve tentar ir além das suas limitações, eu acho que todos nós só crescemos”. Sua trajetória profissional apresentou-se de forma muito particular. “Nunca o fato de eu ter uma deficiência, é, nunca impediu que eu levasse aquilo, [...].Eu por exemplo, não tenho uma mão e um braço...Já saltei de pára-quedas e eu não reconheço, digamos assim, um limite, e o meu exercício profissional, ele é antenado com essa preocupação, que a sociedade deve ter hoje em dia, até porque existem agora leis, existem preocupações com essa inclusão. Lá atrás, não havia isso, eu tive o privilégio de que em uma época, em que não havia essa preocupação, mas eu acho importante é que isso exista realmente, mas é eu não percebo muito. Na empresa em que eu trabalho, até que tem mais um ou outro caso, mas é que ainda são, como que eu vou te dizer? São coisas assim isoladas e tem empresas jornalísticas inclusive nesse caso nenhuma. O entrave físico é uma limitação, mas não é um obstáculo intransponível.”

O termo Reinclusão Social serve apenas para pessoas normais que por ventura passam por alguma intercorrência e retomam suas vidas readaptando-se a novas circunstâncias.

Tatiana Rolim, autora da obra “Andar sobre Rodas”, afirma: “hoje as pessoas portadoras de deficiências, são tidas na nomenclatura nova de apenas pessoas com deficiências. Já veio aí de outras mudanças, aspecto cultural, aleijado, coitado, manco, portador de necessidades especiais, portador de deficiências e agora é simplesmente pessoa com deficiência. Isso tudo na verdade, repete que todo e qualquer profissional deve se atualizar. Eu fiz uma vez, uma matéria pra uma revista e eles utilizaram lá um termo, se reabilitou da cintura pra cima, não é verdade, me reabilitei inteiro, não da cintura pra cima, eu sou uma mulher completa, tenho minhas dificuldades como qualquer outra pessoa com lesão medular, mas superadas e reabilitadas de uma forma integral. Então, é uma chamada pra que esses profissionais tenham uma qualificação. ... Então, para mudar também essa questão da deficiência a pessoa tem que estar no mínimo qualificada para saber do que se trata o assunto”[4].

[1] Entrevista concedida aos autores em: 08.set.2008
[2] Entrevista concedida aos autores em: 08.set.2008
[3] Entrevista concedida aos autores em 16.out.2008
[4] Entrevista concedida aos autores em: 08.set.2008

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